Dia da Mulher: Conheça a realidade das cristãs que enfrentam perseguição ao redor do mundo

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981063279-mulheres-perseguidas Dia da Mulher: Conheça a realidade das cristãs que enfrentam perseguição ao redor do mundo

Em muitos países, homens e mulheres são perseguidos por escolherem a Cristo. Mas a perseguição é ainda mais intensa para as mulheres, que lidam com a hostilidade também ligada ao gênero. Ou seja, as seguidoras de Jesus são duplamente vulneráveis: por serem mulheres e por serem cristãs.   

O que o gênero tem a ver com a perseguição religiosa? 

Em algumas culturas, as mulheres são vistas como inferiores aos homens e por isso lidam com desvantagens sociais. Muitas não podem trabalhar e são excluídas de acesso aos mesmos direitos que os homens. Essa exclusão as torna alvos fáceis dos perseguidores e extremistas, porque o sofrimento das mulheres é, muitas vezes, ignorado por todos ao redor.   

As cristãs estão mais propensas a enfrentar violências ocultas, como casamento forçado, agressão sexual, prisão domiciliar, entre outros. Esses tipos de perseguição são menos prováveis de acontecer com homens, principalmente em países onde os homens mantêm o poder primário, ocupando cargos de autoridade e privilégios sobre as mulheres. 

A dupla vulnerabilidade das mulheres cristãs não exclui a perseguição contra os homens e meninos que também seguem a Cristo. Homens e meninos cristãos não estão isentos de perseguição. Eles são mais propensos a experimentar formas visíveis de perseguição, como serem agredidos publicamente, mortos, demitidos de empregos ou presos. 

Como a perseguição às mulheres afeta também os homens cristãos? 

Além de serem perseguidas em níveis mais complexos e amplos, muitas cristãs também são alvos de violência como forma de atingirem os homens cristãos. A violência contra filhas e esposas de líderes cristãos também acontece com frequência e os extremistas buscam atingir o bem mais precioso dos cristãos: a família.   

A jovem Habiba (pseudônimo) conhece essa dor de perto. Ela tinha apenas 13 anos quando militantes atacaram sua aldeia em Burkina Faso e a sequestraram, assim como sua família e a neta do pastor do vilarejo. “A neta do pastor e eu fomos forçadas a nos casar lá. Eu tinha 13 anos, mas ela tinha apenas 11. Eles nos violentaram sexualmente. Eu estava apenas esperando minha vez de ser morta”. 

Mulheres e meninas como Habiba e a neta do pastor são constantemente usadas para afetar líderes e comunidades cristãs. Muitas autoridades muçulmanas encorajam e incentivam que os homens se casem com cristãs, como forma de abalar as comunidades cristãs e aumentar os números de seguidores do islamismo. 

A Portas Abertas trabalha nas igrejas para treinar e equipar líderes, para que saibam proteger as congregações, criando medidas de proteção e resiliência. O trabalho de parceiros locais lembra os cristãos dos fundamentos bíblicos, para que eles sejam encorajados a responder à perseguição com amor e solidariedade na família e na comunidade em que estão inseridos.

Muitas jovens e mulheres cristãs também são abençoadas com projetos de geração de renda. O objetivo final é que as mulheres e meninas cristãs deixem de ser perseguidas por serem vistas como mais vulneráveis perante a sociedade e tenham seus direitos e liberdades garantidas. E sobretudo, que elas tenham a identidade firmada em Cristo para terem forças e mesmo em meio à perseguição serem sal e luz.   

Conheça três mulheres que pregam na América Latina em meio a perseguição

A perseguição de cristãos em países como Nicarágua, Cuba e Venezuela testa a resiliência das comunidades cristãs. Somente em 2024, mais de 800 incidentes de perseguição foram relatados nesses países, de acordo com uma análise da Portas Abertas. Nicarágua e Cuba estão na Lista Mundial da Perseguição 2025 (LMP), ocupando o 30º e 26º lugar na lista de países que mais perseguem cristão no mundo.

No entanto, em meio a esses desafios, muitas mulheres se levantaram para sustentar a adoração, educar novas gerações e preservar os valores do Evangelho.

No Dia Internacional da Mulher, conheça histórias inspiradoras de três mulheres cristãs que superaram imensos desafios para seguir seu chamado. Com fé inabalável e orientação de Deus, eles continuam a caminhar firmemente em sua jornada. 

Cuba: A complexidade de ser uma líder cristã

O olhar determinado de Carolina* reflete anos de luta para compartilhar o Evangelho em um país onde a liderança cristã é desafiadora — especialmente para as mulheres, já que as normas sociais determinam que seu papel se limita ao lar e não à liderança da igreja. Para ela, a liderança feminina na igreja é um ato de coragem. “Envolve lutar contra preconceitos e provar que as mulheres podem desempenhar papéis importantes, não apenas na sociedade, mas também na igreja”, afirma. 

Em Cuba, as mulheres nem sempre recebem as mesmas oportunidades que os homens e devem equilibrar o ministério com o trabalho e as responsabilidades domésticas para se sustentarem. Isso é particularmente assustador em um país onde a pobreza é galopante e um salário médio é insuficiente para cobrir as necessidades básicas. “Com um salário, você não consegue nem comprar um ovo por dia. Então, como uma mulher pode alimentar seus filhos e, ao mesmo tempo, se dedicar ao ministério?”, reflete ela.

 A crise econômica também afeta as atividades religiosas, agravadas pela contínua escassez de energia do país. “Você pode ter a melhor liturgia preparada, mas tudo pode parar devido a uma queda repentina de energia”, ela explica. 

Apesar dessas dificuldades, Carolina buscou treinamento teológico e estabeleceu um grupo de estudo bíblico feminino. “Hoje, sou mentora de dez mulheres, e nos reunimos semanalmente”, ela compartilha com um sorriso, embora saiba que cada reunião está potencialmente sob vigilância. “Você deve sempre ter cuidado com o que diz e com quem fala”, ela alerta, reconhecendo que qualquer declaração mal interpretada como oposição ao regime pode colocar seu ministério em risco. 

Somente em 2024, quase 250 incidentes de perseguição foram registrados em Cuba, principalmente relacionados à vigilância, restrições e discriminação contra líderes cristãos. Carolina destaca os esforços crescentes do governo para influenciar ideologicamente as igrejas, limitando seu crescimento e desencorajando a liderança das mulheres cristãs. “Eles tentam introduzir ideologias que distorcem o papel das mulheres — sejam feministas, baseadas em gênero ou marxistas-leninistas — porque não querem que a igreja se expanda”, ela adverte.

Apesar da adversidade, Carolina permanece firme, guiando seu grupo de mulheres a confiar em Deus e no Espírito Santo. Desde 2023, ela também participa de workshops ministeriais da Portas Abertas, fortalecendo seu conhecimento bíblico e ministério. “O líder cristão sobrevive apenas pela obra e graça do Senhor”, ela afirma com firmeza.

Sua jornada não é fácil, mas sua fé permanece inabalável. Com cada mulher que lidera, ela reafirma seu chamado e demonstra que a luz do Evangelho não será extinta. “Seguiremos em frente porque Deus nos sustenta, e Seu propósito é maior do que qualquer barreira”, ela declara com esperança.

Nicarágua: A luta para liderar

Elena* lembra vividamente do momento em que sentiu o chamado de Deus novamente aos 27 anos, após concluir seus estudos e se casar. Embora já tivesse sentido isso antes quando criança, desta vez ela não conseguiu resistir. “Deus me chamou novamente, e eu não tive outra opção a não ser dizer sim”, ela relembra. Desde então, ela lidera uma igreja crescente de cerca de 80 membros.

Como muitos pastores nicaraguenses, ela enfrentou inúmeros desafios. Embora sua igreja tenha conseguido adquirir terras e construir um espaço de culto, as restrições governamentais os impediram de realizar atividades ministeriais, como campanhas evangelísticas em escolas.

As instituições religiosas na Nicarágua operam sob severa repressão do regime de Ortega, que não apenas controla as atividades e mensagens da igreja, mas também decide quais igrejas são legalmente reconhecidas. “O governo concede ou nega status legal às igrejas com base no alinhamento político”, explica Martha Lozano*, membro da equipe do Nicaragua Portas Abertas. Sem reconhecimento legal, as igrejas enfrentam fechamento e confisco de ativos.

Desde as eleições de 2021, as restrições governamentais se intensificaram. “Na superfície, há liberdade, mas a realidade é diferente”, explica Elena. Ela sabe que se for pega falando contra o governo, corre o risco de ter sua igreja fechada, ser exilada ou presa.

Só em 2024, a Portas Abertas documentou mais de 500 casos de perseguição, incluindo fechamentos de igrejas, confiscos, prisões e vigilância.

Elena também encontrou oposição dentro da comunidade cristã, pois alguns homens se recusam a aceitar sua liderança. “Equilibrar lar, ministério e crítica tem sido difícil”, ela confessa.

Apesar dessas lutas, seu amor por servir a Deus a mantém firme. Desde 2021, ela recebeu, da Portas Abertas, uma bolsa para estudar teologia, que a equipou com habilidades ministeriais e melhorou seu alcance. “A teologia me deu confiança para compartilhar a Palavra e interagir com pessoas diversas. Ela transformou minha vida”, diz ela.

Embora a estrada seja difícil, Elena segue em frente, sabendo que o Evangelho continua a transformar vidas. “Deus nos chama para sermos corajosos e, enquanto Ele me sustentar, continuarei”, afirma ela.

Venezuela: Uma vida de fé e liderança

Susana* cresceu em Mérida, Venezuela, em um lar marcado por abusos. No entanto, sua vida mudou quando amigos a apresentaram a Jesus. “Eu encontrei um amor que curou minhas feridas”, ela relembra. Essa fé recém-descoberta a levou a servir sua comunidade.

Ela se envolveu ativamente no trabalho social da igreja, mas enfrentou resistência até mesmo dentro da comunidade cristã. “Algumas pessoas não acreditam que as mulheres devem liderar, mas eu me concentro no meu chamado e provo por meio de ações que Deus pode usar qualquer um”, diz ela. Determinada, ela se tornou pastora aos 40 anos, treinando em mordomia e cuidado psicológico e pastoral com o apoio da Portas Abertas.

Além da igreja, Susana lidera programas de auxílio a mulheres em situações vulneráveis ​​e jovens em risco. No entanto, o crime organizado exerce um forte controle sobre sua comunidade, limitando seus esforços.

Para os pastores locais, o perigo de tais atividades é claro: “grupos criminosos veem o Evangelho como uma ameaça porque ele oferece um caminho fora de seu controle”, explica Gabriel José Contreras, um membro da equipe da Portas Abertas. Muitos pastores temem falar abertamente, sabendo das consequências.

Além disso, o governo venezuelano suprime vozes dissidentes, incluindo igrejas. Sob o presidente Maduro, o recém-criado Vice-Ministério de Instituições Religiosas pressiona as igrejas a se alinharem ao governo, ameaçando ainda mais os ministérios independentes.

Apesar desses desafios, Susana permanece inabalável. “Deus tem um propósito em tudo isso. Eu confio em Seu plano”, ela diz. Desde 2024, ela se beneficia do projeto Capital Semilla da Portas Abertas, recebendo ajuda financeira e treinamento para melhorar as instalações de seu ministério.

“Desde a infância, adoro ajudar os outros. Como cristã, continuo com uma dedicação ainda maior”, ela compartilha. Embora os obstáculos persistam, Susana se mantém firme, sabendo que sua fé e chamado são mais fortes do que qualquer oposição. “Não importa a tempestade, Deus sempre tem a última palavra”, ela diz com um sorriso esperançoso.

Apesar da perseguição atingir também homens e meninos cristãos em muitos países, a perseguição é ainda mais intensa para as mulheres, que lidam com a hostilidade também ligada ao gênero. Ou seja, as seguidoras de Jesus são duplamente vulneráveis: por serem mulheres e por serem cristãs.

*Nomes alterados por motivos de segurança.

 

Fonte: Guiame